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Cristo Rei do Universo à luz dos Dois Reinos


O último domingo do ano litúrgico nos lembra que Jesus não é apenas o Salvador da Igreja, mas o Rei de todo o universo. Para nós, luteranos, essa confissão ganha clareza quando lembramos da doutrina dos Dois Reinos. Ela nos ajuda a entender como Cristo governa tudo e como nós, seus filhos, vivemos nossa fé no mundo.

Quando confessamos que Cristo é Rei do Universo, estamos dizendo que Ele governa sobre todas as coisas. Ele mantém a criação, preserva a ordem e refreia o mal. Este é o Reino de Poder. Nele, Cristo reina por meio da Lei, da razão e das autoridades deste mundo. É o governo que mantém a vida possível neste lado da eternidade. Aqui, Cristo age muitas vezes de modo oculto, usando instrumentos imperfeitos para produzir justiça civil, paz e ordem. Por isso o apóstolo Paulo chama os cristãos a respeitarem e servirem as autoridades, porque elas são instrumentos de Deus para o bem comum em Romanos 13. O cristão vive aqui como cidadão responsável, servindo ao próximo através de sua vocação profissional e social, sabendo que o próprio Cristo reina por trás de tudo.

Mas o governo que salva não é este. O reinado que nos dá vida eterna é o Reino da Graça. Aqui Cristo não governa com espada, leis ou coerção. Ele governa com o Evangelho. Ele reina perdoando pecados, regenerando corações e sustentando a fé pela Palavra e pelos Sacramentos. É o reino do Cristo crucificado, que conquista não pela força, mas pelo amor que se entrega. Aqui somos libertos da acusação da Lei para viver em serviço humilde e gratuito. É um reino invisível aos olhos, mas poderoso para arrancar pessoas das trevas e colocá-las na luz.

A distinção entre esses dois reinos é essencial. Cristo reina nos dois, mas governa cada um de maneira diferente. No Reino de Poder Ele usa a razão e a lei para preservar a criação. No Reino da Graça Ele usa a Palavra e o Espírito para nos dar salvação. Misturar esses métodos é um erro grave. O Evangelho não pode ser imposto por leis civis, e o Estado não deve assumir funções da Igreja. O cristão entende que a força pertence ao Estado e a salvação pertence ao Evangelho. Por isso rejeitamos toda forma de teocracia. A fé não nasce da espada, mas da pregação de Cristo crucificado.

A solenidade de Cristo Rei nos lembra que o governo mais importante do nosso Senhor é o de Sua graça. Tudo o que Ele faz no mundo serve, em última instância, para que o Evangelho seja anunciado com liberdade. E nós, seus discípulos, vivemos nessa dupla vocação. Servimos como cidadãos responsáveis no Reino de Poder e vivemos pela fé no Reino da Graça. Em ambos confessamos o mesmo Rei. Em ambos somos chamados a servir. Mas somente no Reino da Graça encontramos a vida eterna.

No fim, Cristo é Rei porque governa o mundo com sabedoria e a Igreja com misericórdia. Ele sustenta a ordem com sua mão forte e sustenta os crentes com sua mão ferida na cruz. É assim que Seu reinado se manifesta entre nós: na ordem que preserva e no perdão que salva.

Servindo nEle,

Prof. Denício Godoy

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